quinta-feira, 15 de maio de 2014

Circuito Acadêmico: os nossos projetos de pesquisa



O blog surgiu como um espaço para debater e divulgar as reflexões que estamos desenvolvendo no marco da pesquisa “Internacionalização da Sociologia Brasileira: práticas de publicação internacional dos sociólogos brasileiros e presença brasileira nos periódicos internacionais”, coordenado pela Profa. Eloísa Martín, na qual somos bolsistas e voluntários de Iniciação Científica. Ao mesmo tempo, cada um de nós desenvolve pesquisas individuais, com temas associados.
Compartilhamos aqui os resumos dos nossos projetos de pesquisa.


Projeto Marco: 

“Internacionalização da Sociologia Brasileira: práticas de publicação internacional dos sociólogos brasileiros e presença brasileira nos periódicos internacionais

 

 

Projeto coordenado pela profa. Eloísa Martín, financiado pela FAPERJ (APQ1 2012.1) e desenvolvido no Depto. de Sociologia do IFCS/UFRJ

 

Resumo:
A exigência pela internacionalização da produção cientifica por parte do MEC, o MCTI, e as agencias de fomento a pesquisa tem impactado dramaticamente o quadro docente e discente de todas as universidades. Se a pressão “publish or perish” tem se imposto globalmente ao ponto de constituir o parâmetro fundamental da excelência acadêmica, os contextos universitários nacionais específicos tem lidado de maneira díspar com as dificuldades de acesso às publicações internacionais e conseguido diversos graus de inserção internacional. Essa pesquisa propõe analisar o grau de internacionalização da sociologia brasileira a partir da análise da presença de autores brasileiros em periódicos internacionais e das práticas de autoria e publicação dos sociólogos brasileiros.
Uma descrição minuciosa da dinâmica das publicações dos programas com maior nota da CAPES como índice da internacionalização da Sociologia Brasileira é fundamental, e pode ser mais bem entendida ao combiná-la com uma análise das práticas de autoria dos professores desses programas. Esse projeto, ainda, tem uma ambição maior, que é discutir esses dados sob a luz da divisão internacional do trabalho acadêmico, à circulação internacional do conhecimento e do lugar de dependência que a Sociologia brasileira teria nesse quadro. Como gerar condições para uma produção intelectual autônoma pensada desde as particularidades de países periféricos? Como gerar modelos teóricos aptos a pensar as idiossincrasias nacionais? Qual o papel da educação superior em corrigir assimetrias e gerar condições concretas de inserção social em países periféricos?, são algumas das questões que configuram o horizonte desta pesquisa. O projeto propõe uma discussão sobre a influência das rotinas de afazer científico na própria definição da Sociologia, na elaboração dos critérios de relevância (científica em geral, e sociológica, em particular) e nas representações sobre o papel da sociologia brasileira na divisão internacional do trabalho acadêmico.


Projetos de Pesquisa do Grupo:


As cotas e suas representações sociais.

Autora: Bruna Saldanha, bolsista PIBIC/UFRJ.
  
O presente trabalho trata das representações sociais sobre as cotas nas universidades a partir da análise dos discursos dos professores de economia da UFRJ e da PUC. Para realizar tal análise o objetivo do projeto é entender em que medida a questão racial dialoga com outras questões sociais que cercam o campo acadêmico. A metodologia a ser utilizada serão entrevistas com os professores universitários de economia das duas universidades escolhidas. A partir delas pretende-se entender como as cotas raciais interferem na vida cotidiana do funcionamento universitário nos quais os entrevistados fazem parte. Como possíveis suportes metodológicos será considerado também o trabalho de campo, a fim de auxiliar no acompanhamento do quadro atual dos novos alunos (cotistas e não cotistas) e como estes se relacionam com os professores universitários. Também serão observadas as didáticas utilizadas antes e depois (caso tenham sido modificadas) das novas entradas. A escolha das universidades PUC e UFRJ foi feita por conta do tamanho do impacto social que ambas tem na sociedade carioca devido a todo capital investido em suas estruturas. Por um lado a PUC faz parte do PROUNI, por outro a UFRJ tem 50% das suas vagas destinadas às cotas universitárias. A parte teórica será utilizada para dar conta da análise dos dados colhidos pelas entrevistas. Ela será baseada em algumas obras do autor Pierre Bourdieu através de seus conceitos, como campo simbólico, capital cultural e social entre outros. As obras do autor servirão exclusivamente no auxílio da interpretação sociológica dos
dados, vistos como principal recurso do projeto, responsáveis por encaminhar as hipóteses e conclusões



Redes acadêmicas em tempos de produtivismo: pareceres científicos e funções editoriais 

 

Autor: Edmar Machado, bolsista Capes Jovens Talentos para a Ciência.

Nos programas de pós-graduação em Ciências Sociais e Sociologia de conceitos Capes 6 e 7, observa-se que os docentes exercem as funções de membro de corpo editorial e parecerista de artigos científicos de elevado número de periódicos, sejam eles nacionais ou internacionais, mais do que seus colegas em programas de menor nota. Tais funções não acarretam em nenhum retorno financeiro, como também não contam como atividade “produtiva”, nem como carga horária.
A minha pesquisa visa compreender as motivações dos pesquisadores que exercem tais funções, dada a pressão institucional para que eles produzam cada vez mais, sobretudo artigos em revistas qualificadas. Com isso, procura-se entender o papel que o pesquisador exerce no processo de produção do conhecimento científico, para além da produção de artigos; como conciliam o tempo dedicado à produção de publicações e o tempo dedicado à dar pareceres; e identificar os capitais em disputa nas atividades em questão. O debate cada vez mais atual em torno do produtivismo acadêmico tem levantado questões sobre as consequências qualitativas na produção do conhecimento científico, como também para a vida pessoal do pesquisador, que também serão consideradas nesse trabalho.
Metodologicamente, serão combinadas ferramentas quantitativas e qualitativas. Utilizarei a base de dados da pesquisa da Profa. Eloísa Martín– Internacionalização da sociologia brasileira: práticas de publicação internacional dos sociólogos brasileiros e presença brasileira nos periódicos nacionais. A partir da classificação dos Currículos Lattes, serão analisados a quantidade, qualidade e alcance (nacional ou internacional) dos periódicos em que cada pesquisador exerce função de pareceristas, editor ou membro de comitê editorial. Para melhor analisar esses dados, utilizarei pesquisas de profundidade com pesquisadores selecionados, de maneira de oferecer uma visão mais completa da produção do conhecimento científico, sobretudo em relação as redes que se formam entre pesquisadores, instituições e periódicos. 



Os índices e a graduação: accountability acadêmica e seus impactos na sala de aula.

 

Autora: Joanna Cassiano, bolsista Faperj.
O objetivo geral desse trabalho é analisar de que forma tem sido estruturada a prática docente voltada para a graduação em tempos de pressão por produtividade acadêmica. Para isso, buscarei mapear e analisar de que forma se dá, entre tantas tarefas e prazos, a relação dos professores pesquisadores membros da pós-graduação com suas disciplinas ministradas na graduação.
Ao acentuar a relevância dos índices de produtividade do corpo docente em suas análises, os critérios de avaliação acadêmica tem transformado a prática profissional dos professores-pesquisadores nas universidades. Em especial, os profissionais que fazem parte do corpo docente dos cursos de mestrado e doutorado se veem cada vez mais imersos em um intenso acúmulo de tarefas e funções. Entre esses múltiplos afazeres, o papel da docência na graduação começa a ser colocado em xeque, chegando em alguns casos a ocupar um espaço secundário na lista de prioridades de alguns profissionais.
A partir de entrevistas em profundidade com professores-pesquisadores membros do corpo da pós-graduação, analiso o embate entre sala de aula e pesquisa, a fim de conhecer suas estratégias e dificuldades na conciliação de tantas tarefas, e seus posicionamentos em relação à qualidade da graduação em meio a esse debate.
Como conclusão preliminar, pois se trata de uma pesquisa em andamento, traço um panorama sobre uma discussão que é central para o momento da educação superior e para o futuro da graduação e da prática acadêmica no país. 



Circulação de conhecimento e dependência acadêmica na Sociologia: apontamentos para um debate 

 

  Autora: Julia França, bolsista PIBIC/UFRJ.
 
O discurso hegemônico sobre o conhecimento científico do Norte Global baseia-se em uma concepção eurocentrista que se apresenta com o único discurso possível. Esse discurso está presente também na Sociologia. Por meio desse discurso, o Norte se define como centro da produção do “único saber”, o que dificulta a produção de conhecimento próprio e de uma sociologia autônoma construída pelo Sul Global, através de suas experiências sociais particulares, gerando desigualdade nos processos de produção, circulação e recepção de conhecimento. A proposta do presente trabalho é analisar as dimensões da dependência acadêmica do Sul Global, o papel da sociologia e o impacto do discurso hegemônico eurocentrista na geopolítica do conhecimento.
Apesar de se apresentar como tal, o discurso hegemônico não é o único discurso possível. Por isso, pretendo articular alternativas epistemológicas elaboradas por três pesquisadores Syed Farid Alatas, Walter Mignolo e Raewyn Connell para pensar os discursos alternativos que contestam o viés eurocentrista a partir do Sul.
Seguindo Wallerstein (1997: 94), as premissas eurocêntricas e o viés eurocentrista estão presentes na historiografia, no universalismo paroquial europeu, na oposição Ocidente vs. Oriente, ou Norte vs. Sul, e acabam por determinar a adoção de modelos, seleção de problemas, metodologias e técnicas a serem adotadas na produção de conhecimento na Sociologia. Em outras palavras, como afirma Alatas (2003: 604) o discurso hegemônico distorce a análise das ciências sociais e a sua capacidade de lidar com problemas do mundo contemporâneo.
A seleção dos pesquisadores parte da sua relevância nos debates sobre as ciências sociais produzidas no Sul. Ainda que eles não são os únicos, esses três foram escolhidos a partir de um critério de representatividade geográfica: temos malasiano, argentino e australiana que trabalham em universidades situadas tanto no Norte quanto no Sul.
A proposta é identificar e analisar as dimensões da dependência acadêmica do Sul Global, o papel da sociologia e o impacto do discurso hegemônico eurocentrista
na geopolítica do conhecimento. Para tanto, vou mapear, analisar e comparar a produção bibliográfica dos três autores.
Pretendo observar a maneira pela qual esses autores denunciaram e romperam com o viés eurocentrista, possibilitando a criação de novas perspectivas, elaboradas a partir da experiência social particular do Sul Global. O projeto está na fase inicial de desenvolvimento, encontra-se na etapa de levantamento bibliográfico. 



Diferenças de gênero nas publicações acadêmicas: desafios para a internacionalização da Sociologia brasileira.

 

Autor: Leonel Allende Nunes Salgueiro, bolsista PIBIC/UFRJ.

Esse trabalho propõe analisar a presença de autores e autoras brasileiras em periódicos nacionais e internacionais. Parto do pressuposto, presente na leitura da bibliografia prévia, que o incentivo e a cobrança no meio acadêmico são fatores contribuintes à desigualdade de gênero, e que isso pode ser verificado também nas diferenças de gênero nas publicações.
A partir da base de dados da pesquisa da Profa. Eloísa Martín -Internacionalização da sociologia brasileira: práticas de publicação internacional dos sociólogos brasileiros e presença brasileira nos periódicos nacionais -– serão comparadas publicações de sociólogos e sociólogas, dos Programas de Pós-Graduação de universidades brasileiras, em periódicos nacionais e internacionais. A pesquisa analisará as publicações de 496 (quatrocentos e noventa e seis) sociólogos e sociólogas cadastrados em programas de pós-graduação em Sociologia e Ciências Sociais, de acordo com o informado nos currículos Lattes.
Na segunda parte do trabalho serão analisadas entrevistas com sociólogos e sociólogas escolhidos da mesma base de dados. Serão identificadas as práticas habituais no que refere à publicação, assim como os obstáculos que encontram, considerando os fatores que incidem sobre a circulação e internacionalização do conhecimento que afetam a ambos os gêneros.
Na conclusão, a partir dos dados quantitativos e qualitativos coletados, buscarei avaliar as desigualdades de gênero na presença brasileira nas publicações em periódicos nacionais e internacionais.
 




Palavras-chave: INTERNACIONALIZAÇÃO, PUBLICAÇÃO ACADÊMICA, PRODUTIVISMO, UNIVERSIDADE, AVALIAÇÃO, GÊNERO E ACADEMIA, SUL GLOBAL, EUROCENTRISMO, DOCÊNCIA, COTAS, ELOISA MARTIN, EDMAR MACHADO, JOANNA CASSIANO, LEONEL SALGUEIRO, JULIA FRANÇA, BRUNA SALDANHA


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